22/05/09
19/05/09
abraço-te



os teus dedos que eu conheço um a um
(ao imaginar conversas com cada um deles).
leva este abraço apertado entre eles, todos eles.
quando te deitares, à noite, abre a mão devagar,
deixa-o sair, o abraço, que é meu.
e verás que, se fechares os olhos, sentirás os meus braços num frémito quente
depois os meus pés nos teus
depois o resto do corpo a procurar o teu
e então aí poderás ter a certeza
que o amor é feito destas pequenas coisas.
percepção
a minha percepção vai além dos signos visuais, é um processo criativo que me leva a fazer figurações mentais de tudo. por exemplo, projectar em objectos emoções ou expressões: algumas das minhas pulseiras têm personalidade. umas são mais snobs que outras. há uma que fala francês.
há, também, uma jarra na minha sala, bojuda e grande, que eu julgo ser a “Maria” das jarras, faladora, trabalhadora e boa cozinheira.
tenho um candeeiro vermelho redondo e pequeno que julgo ser nostálgico e deveras romântico. fala pouco e tem uma voz fininha. trata-me na 3ª pessoa e por “menina”.
isto já para não falar no cadeirão preto e branco que tenho na sala, que se senta numa pose impecável, me olha pelo canto do olho muitas vezes em sinal de aquiescência e fuma longos charutos enquanto vê a “entrevista com o Mário Crespo”.
também me acontece, frequentemente, tentar adivinhar o rosto de quem escreve, através das suas palavras.
assim, já desenhei mentalmente os rostos de todos aqueles que que deixam mensagens no meu blog e que leio, amiúde, nos seus blogs.
também já pensei o quanto seria engraçado encontrarmo-nos numa sala, encostarmo-nos à parede e fazer um jogo a tentar adivinhar quem é este ou quem é aquele.
imagino mais uns do que outros, em função do que sinto pulsar nas palavras.
vejo-vos a pegar em livros, a fazer compras no supermercado, a parar num semáforo vermelho, a tomar o pequeno almoço.
a pentear o cabelo ou abrir um pão.
que diabo, devem pensar vocês, mas ela não tem mais nada que fazer?
o pior é que tenho mesmo. tenho e muito.
mas não deixo de pensar em coisas, em muitas coisas. e penso e desenho e desenho e penso.
depois passo a vida a pensar no que penso e no que desenho.
qualquer dia transformo-me em coisa só para poder passar o resto dos meus dias a divagar.
há, também, uma jarra na minha sala, bojuda e grande, que eu julgo ser a “Maria” das jarras, faladora, trabalhadora e boa cozinheira.
tenho um candeeiro vermelho redondo e pequeno que julgo ser nostálgico e deveras romântico. fala pouco e tem uma voz fininha. trata-me na 3ª pessoa e por “menina”.
isto já para não falar no cadeirão preto e branco que tenho na sala, que se senta numa pose impecável, me olha pelo canto do olho muitas vezes em sinal de aquiescência e fuma longos charutos enquanto vê a “entrevista com o Mário Crespo”.
também me acontece, frequentemente, tentar adivinhar o rosto de quem escreve, através das suas palavras.
assim, já desenhei mentalmente os rostos de todos aqueles que que deixam mensagens no meu blog e que leio, amiúde, nos seus blogs.
também já pensei o quanto seria engraçado encontrarmo-nos numa sala, encostarmo-nos à parede e fazer um jogo a tentar adivinhar quem é este ou quem é aquele.
imagino mais uns do que outros, em função do que sinto pulsar nas palavras.
vejo-vos a pegar em livros, a fazer compras no supermercado, a parar num semáforo vermelho, a tomar o pequeno almoço.
a pentear o cabelo ou abrir um pão.
que diabo, devem pensar vocês, mas ela não tem mais nada que fazer?
o pior é que tenho mesmo. tenho e muito.
mas não deixo de pensar em coisas, em muitas coisas. e penso e desenho e desenho e penso.
depois passo a vida a pensar no que penso e no que desenho.
qualquer dia transformo-me em coisa só para poder passar o resto dos meus dias a divagar.
14/05/09
as meninas resplancedentes

passei longos anos da minha vida, na meninice e pré-adolescência, a ver as minhas irmãs e primas a arranjar-se para sair à noite.
a memória mais remota coloca-me com o queixo ao nível do lavatório da casa de banho para ver as meninas a pintarem-se.
e fascinada, a minha mão deve ter aprendido aqueles movimentos, pois hoje sou capaz de pintar-me com os olhos fechados.
fascinada, os meus olhos bebiam tudo; rímel, rouge, batôn, perfume, roupa, calçado…
e depois elas iam, e eu ficava.
saíam, fortes, com a postura das mulheres bem arranjadas, que se sentem giras, com os belíssimos caracóis mais vivos do que nunca…
aos 14 anos, estava eu no Algarve com a família e eis que surge a tão esperada possibilidade de… “sair à noite”.
e aconteceu o que acontece nos contos de fadas; aquelas meninas (irmãs e primas) levaram-me com elas depois de dizer “ó lau, queres vir connosco?”, vestiram-me, maquilharam-me, pentearam-me, perfumaram-me e levaram-me àquela que foi a primeira discoteca onde entrei: o “summertime”.
e eu, lau adolescente, com óculos e borbulhas, meia assarapantada, a sentir-me visceralmente grande, com a cara pintada como elas, sem óculos, a roupa escolhidíssima como a delas, perfumada e com uns sapatinhos brancos e prateados (a saia era indiana, cor-de-rosa e uma blusa sem manga de rendas, igualmente cor de rosa… ainda me lembro do barulho dos sininhos da saia indiana, eu nessa noite também era a fada sininho, só me faltava voar…)
o “summertime” era um sitio magnifico, com sofás vermelhos de veludo e pequenas mesinhas, era uma discoteca à antiga, com a pista no meio dos sofás, uma bola gigante, uma aparelhagem potente e aquele cheiro de felicidade misturado com música e corpos morenos.
na altura eu estava convencida que era a miúda à face da terra que mais gostava da Rita Lee; além de lhe conhecer a família toda eu ainda sabia que ela gostava mais de peixe do que de carne, que fazia imensa ginástica, nome dos filhos, da mãe, do marido, do 1º namorado, etc.
a memória mais remota coloca-me com o queixo ao nível do lavatório da casa de banho para ver as meninas a pintarem-se.
e fascinada, a minha mão deve ter aprendido aqueles movimentos, pois hoje sou capaz de pintar-me com os olhos fechados.
fascinada, os meus olhos bebiam tudo; rímel, rouge, batôn, perfume, roupa, calçado…
e depois elas iam, e eu ficava.
saíam, fortes, com a postura das mulheres bem arranjadas, que se sentem giras, com os belíssimos caracóis mais vivos do que nunca…
aos 14 anos, estava eu no Algarve com a família e eis que surge a tão esperada possibilidade de… “sair à noite”.
e aconteceu o que acontece nos contos de fadas; aquelas meninas (irmãs e primas) levaram-me com elas depois de dizer “ó lau, queres vir connosco?”, vestiram-me, maquilharam-me, pentearam-me, perfumaram-me e levaram-me àquela que foi a primeira discoteca onde entrei: o “summertime”.
e eu, lau adolescente, com óculos e borbulhas, meia assarapantada, a sentir-me visceralmente grande, com a cara pintada como elas, sem óculos, a roupa escolhidíssima como a delas, perfumada e com uns sapatinhos brancos e prateados (a saia era indiana, cor-de-rosa e uma blusa sem manga de rendas, igualmente cor de rosa… ainda me lembro do barulho dos sininhos da saia indiana, eu nessa noite também era a fada sininho, só me faltava voar…)
o “summertime” era um sitio magnifico, com sofás vermelhos de veludo e pequenas mesinhas, era uma discoteca à antiga, com a pista no meio dos sofás, uma bola gigante, uma aparelhagem potente e aquele cheiro de felicidade misturado com música e corpos morenos.
na altura eu estava convencida que era a miúda à face da terra que mais gostava da Rita Lee; além de lhe conhecer a família toda eu ainda sabia que ela gostava mais de peixe do que de carne, que fazia imensa ginástica, nome dos filhos, da mãe, do marido, do 1º namorado, etc.
e entro então no “summertime” com as meninas resplandecentes, antes da pista abrir, porque nesse tempo a cena era ir “antes da pista abrir” porque a abertura da pista ainda era assim uma coisa digna de se ver.
e quando a pista abre, as luzes apagam-se, os strobes começam a funcionar e a pista enche-se de fumo, ouvem-se os acordes da monumental música do “2001 odisseia no espaço”, o volume a rasgar o fumo, a luz, os nossos ouvidos, e o meu coração a saltar-me do peito, eu tonta de emoção e arrepiada dos pés à cabeça e quando finalmente aquela melodia majestosa se cala, quando a luz muda, para ficar só a grande bola de espelhos a reflectir centenas de reflexos pelo vermelho dos sofás, pelas paredes espelhadas, pelos nossos corpos, eis que eu ouço, sim, os primeiros acordes do piano do “lança perfume”… e eu não queria acreditar, a música da minha Rita a tocar, ali, naquela sitio mágico e eis que as meninas resplandecentes dão um gritinho, pegam-me na mão porque eu estou petrificada e arrastam-me para aquela pista que literalmente me engole…
e eu com a voz embargada, o coração do tamanho de uma formiga, cantei, dancei, dancei a primeira música, numa discoteca “a sério”, dancei o “lança perfume e senti nesse dia, que sim, que às vezes é possível sentirmo-nos dentro de um conto de fadas e senti-me a miúda mais feliz do mundo, nesse momento, em que toda a gente saltava, cantava alto, as meninas resplancedentes à minha volta a ver a "noviça" embasbacada, enquanto se ouvia
Me vira de ponta cabeça
Me faz de gato e sapato
E me deixa de quatro no ato
Me enche de amor, de amor
Lança, lança perfume…
às minhas meninas que me levaram, nesse dia: Rosi, Marisa, Kiki, Beti e Teresa.
às minhas meninas que me levaram, nesse dia: Rosi, Marisa, Kiki, Beti e Teresa.
à minha mana Kiki, um beijo especial, por ter aberto o "baile" dos meus 40 anos com uma entrada exactamente igual...
11/05/09
07/05/09
"tenrinha"



uma das coisas que mais gosto, que a minha mãe me ensinou, foi a descrever um estado de espírito pelo nome de “tenrinha”.
estar tenrinha é estar mole mas desperta, nostálgica mas satisfeita, cansada mas extremamente criativa.
é pois, uma coisa que eu sinto desde miúda, contraditória mas que o balanço final me faz ficar… bem.
e de facto várias coisas me fizeram ficar assim.
primeiro, o ter que me desdobrar em varias lauras durante o dia, para trabalhar, estudar, fazer ginástica, escrever historias mentais, dar mimos aos pais, aos gatos, arrumar a casa, cozinhar, estender roupa, dobrar roupa. coisas pequenas, eu sei, mas muitas.
depois aproxima-se o treze de Maio e eu fico muito pequena. sei que anda uma data de gente, por esse país, a ir a pé a Fátima e isso comove-me. enternecem-me os coletes reflectores daquela gente apoiada em paus que se movem ao sabor da fé. tenho inclusive uma pessoa muito próxima que está a deslocar-se a pé, neste momento, para Fátima. caminha kilometros, dorme em tendas, come o que calha. mas está feliz.
e depois descobri recentemente, pelas mãos sábias de alguém, uma coisa que me tem deixado assim numa espécie de limbo. entre o cair suicidariamente no reino do cinema francês ou fechar-lhe a porta e deixá-lo arrumado para não me consumir a cabeça pois tenho muito que estudar. mas não consigo, estou mergulhada nos museus do liberalismo e nas acções de Passos Manuel e aparece-me de repente o Léon, homem maduro, assassino profissional, com um ar desgraçado e lindo, a falar com aquela miúda de 10 anos que mais parece ter 40.
e fico “tenrinha” de repente e sem forças, só me apetece dançar e escrever e comer chocolate, em vez das patelas de milho que me tiram a fome.
pronto, quis dividir isto com vocês, que me lêem, e quem sabe me possam contar como se sentem “tenrinho(as)” e se este termo foi engendrado pela Natércia…
estar tenrinha é estar mole mas desperta, nostálgica mas satisfeita, cansada mas extremamente criativa.
é pois, uma coisa que eu sinto desde miúda, contraditória mas que o balanço final me faz ficar… bem.
e de facto várias coisas me fizeram ficar assim.
primeiro, o ter que me desdobrar em varias lauras durante o dia, para trabalhar, estudar, fazer ginástica, escrever historias mentais, dar mimos aos pais, aos gatos, arrumar a casa, cozinhar, estender roupa, dobrar roupa. coisas pequenas, eu sei, mas muitas.
depois aproxima-se o treze de Maio e eu fico muito pequena. sei que anda uma data de gente, por esse país, a ir a pé a Fátima e isso comove-me. enternecem-me os coletes reflectores daquela gente apoiada em paus que se movem ao sabor da fé. tenho inclusive uma pessoa muito próxima que está a deslocar-se a pé, neste momento, para Fátima. caminha kilometros, dorme em tendas, come o que calha. mas está feliz.
e depois descobri recentemente, pelas mãos sábias de alguém, uma coisa que me tem deixado assim numa espécie de limbo. entre o cair suicidariamente no reino do cinema francês ou fechar-lhe a porta e deixá-lo arrumado para não me consumir a cabeça pois tenho muito que estudar. mas não consigo, estou mergulhada nos museus do liberalismo e nas acções de Passos Manuel e aparece-me de repente o Léon, homem maduro, assassino profissional, com um ar desgraçado e lindo, a falar com aquela miúda de 10 anos que mais parece ter 40.
e fico “tenrinha” de repente e sem forças, só me apetece dançar e escrever e comer chocolate, em vez das patelas de milho que me tiram a fome.
pronto, quis dividir isto com vocês, que me lêem, e quem sabe me possam contar como se sentem “tenrinho(as)” e se este termo foi engendrado pela Natércia…
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