Era uma vez, uma cidade cinzenta e sombria e
triste. Tão triste que a luz do sol quase se envergonhava de entrar e fugia,
para não chorar.
Nessa cidade vivia Gabriel. Gabriel era um menino alegre
e muito curioso, que gostava muito de passear pela cidade em busca de novas aventuras.
Porém, ao passear pela cidade, acabava por ficar
também triste, como todos os seus habitantes. Naquela cidade não havia
sorrisos, olhos brilhantes. Não havia calor entre as pessoas. As pessoas eram
frias, como o tempo e como as calçadas tristes.
Um dia, de regresso a casa, vindo da Escola,
Gabriel encontrou um velhinho sentado num banco de jardim. Tinha um olhar
triste e vazio e segurava nas mãos uma caixa velha, triste, forrada a um tecido
que se via perfeitamente que já havia sido, também, alegre.
Gabriel dirigiu-se a ele.
- Boa tarde. – Exclamou, com um sorriso.
O velhinho olhou para ele, como se estivesse a ver
o diabo.
- O que foi? – Gabriel atirou, meio assustado.
- Tu estás a sorrir - Murmurou o velho um fio de
voz.
- Sim… - Disse Gabriel e voltou a sorrir.
O velho respirou fundo e fechou os olhos. Os seus
lábios moveram-se em silêncio. Quando voltou a abrir os olhos, tinha-os
marejados de água.
- Estás triste? – Disse Gabriel sentando-se ao seu
lado. – Nesta cidade toda a gente é triste. Eu devo ser a única pessoa que ri.
Ando por aí a distribuir sorrisos, mas ninguém me liga…
O velho pousou a mão de pergaminho na mão jovem de
Gabriel.
- Andava à tua procura…
- Andavas à minha procura? – Gabriel cada vez
percebia menos.
- Há muitos anos atrás… - O velho começou, com uma voz mais segura. –
Um mágico malvado, que andava experimentar feitiçarias, lançou um terrível
feitiço sobre esta cidade…
- Que feitiço foi esse? – Exclamou Gabriel de olhos
arregalados de curiosidade.
- O feitiço foi roubar todos os sorrisos aos
habitantes desta cidade…mergulhá-la numa tristeza profunda. Homens, pássaros,
flores, estátuas, casas, rios. Tudo seria, a partir dali, triste.
O rapaz pensou durante um instante.
- Realmente é verdade. Tudo é triste nesta cidade.
- Mas todos os feitiços podem ser quebrados…
- Podem? – Gabriel estava a adorar a história.
- E o feiticeiro – prosseguiu – Afirmou que só uma
pessoa verdadeiramente boa, com muita vontade de ajudar o próximo e fazer o
bem, seria capaz de devolver, à cidade, a alegria.
Os dois olharam-se durante um instante.
- Tu és essa pessoa – Disse o velho. – Por isso te
disse há pouco, que andava à tua procura.
- Mas como sabes que sou eu essa pessoa que
procuras? – Indagou Gabriel.
- Porque reconheci, no teu sorriso, todo o bem que
tens dentro do teu coração. E sei que a tua missão, nesta vida, é espalhá-lo…
Gabriel fechou os olhos e sentiu no peito uma coisa
esquisita.
O velho estendeu-lhe a caixa. Gabriel recebeu-a a
medo. Porém, quando lhe tocou, o tecido ficou resplandecente e as cores mais
vivas.
- Essa caixa – Afirmou o velha. – Contém os
sorrisos e a alegria desta cidade. Estão aí aprisionados desde aquele maldito
dia. Se a conseguires abrir, a alegria e o riso espalhar-se-ão por todos, como
se fossem ar. E os sorrisos que deres aos outros passarão a ser retribuídos… O
sol passará a brilhar e as flores terão, finalmente, cor. E a água dos rios
avançará contente, em direção ao mar.
Gabriel olhou a caixa que tinha nas mãos. Quanta
responsabilidade sentia, de repente. E, ao mesmo tempo, que tamanha alegria.
Sem pensar, pousou a caixa no banco de jardim.
Destravou o pequeno fecho, rodou a pequenina chave na fechadura ainda mais
pequena. Uma brisa suave cantarolou. Uma flor adormecida ergueu uma
sobrancelha. Um pássaro pousou ali perto.
Com as mãozinhas pequenas, Gabriel abriu a caixa.
Um sorriso iluminou-lhe o rosto.
O velho suspirou contente e os seus olhos riram,
pela primeira vez, desde há muito tempo.
A palavra “triste” passou a fazer parte do passado
daquela cidade.
E a “alegria” passou a escrever-se nas entrelinhas
dos olhares, das árvores, das estrelas e dos corações.
2 comentários:
Obrigada
mais uma vez fizeste magia!! :)
LY
Lindo....
Um texto de esperança....!!!!
Adorei.
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