Com a
família somos sempre pequenos ainda que já sejamos grandes.
Há sempre a
memória de uma brincadeira, de um diminutivo,
de uma palavra errada que se
dizia em bebé.
Com a
família acontece, por vezes, uma catarse de deliciosa estupidez,
como se de repente
voltássemos à era dos bibes e das coisas idiotas e genuínas.
Com a
família desfolha-se, quase sempre, o álbum de retratos retratados em boas (e
tantas) memórias.
Canta-se o inaudível e as mãos parecem sempre dadas ainda que
estejam longe.
Com a família
fala-se uma linguagem única, típica e universal.
A linguagem
dos bolos Cristina, dos carrinhos de choque na feira, das roulottes cheias de
tralha no campismo, do Cebulório e da jogatina, a altas horas.
Os cabelos
parecem ter o mesmo cair e as vozes têm uma toada similar.
As vogais
abrem-se da mesma forma
e as expressões partilham-se quase ao mesmo tempo.
Com a
família tem-se uma relação a tempo inteiro e um casamento para a vida.
Com a
família somos sempre nós.
O coletivo,
o individual, os caracóis, os dedos entrelaçados,
os corações a falar a mesma
língua.
Com a
(minha) família é assim. E que bom que é.