21/07/16
casórios
Gosto de casórios. Ao contrário de muita gente.
Gosto do cerimonial da preparação para ir ao casório ainda que não goste de ir a um casório como se fosse vestida para um casório.
Portanto, gosto de ir a casamentos.
É que eu adoro apreciar pessoas e os casamentos têm pessoas
e pessoas que se aprumam em demasia
que se aperaltam escaganifobeticamente
ou que simplesmente chegam com a roupinha andadeira habitual.
É que eu adoro apreciar os cabelos esticados-alisados-brilhosos-escalados-à-moda
ou então os cabelos com presos-típicos-de-cabeleireiro-que-penteia-as-freguesas-às-8-da-matina-para-o-casório
ou então os cabelos acabadinhos de pintar com restinhos de tinta nas têmporas
e os cabelos-com-kilos-de-laca-puxados-levemente-só-para-dizer-que-não-é-de-cabeleireirom-mas-é….
e é muito.
É que eu adoro ver os pés arranjados das senhoras e das meninas
encarcerados em saltos vertiginosos
coitados, à rasca, porque não estão habituados
e com cara de sofrimento a querer torcer e a obrigar
a que elas se esborrachem no chão.
Pezinhos com unhas de manicure à francesa
ou vernizinho igual às unhas da mão.
É que eu adoro ver os vestidos Maria-Marcelino-Augusto-Ana Sousa
ou os vestidos de modista de família ajustadinhos ao corpo
a condizer com as pochettes “que se usam”.
E gosto, adoro, ver o dançar dos pratos a serem postos e levantados,
os empregados a andar em filinha ao som da música com calças demasiado apertadas
e bochechas vermelhuscas,
o vilho a tilintar nos copos
os olhos brilhantes dos convivas que vão ficando cada vez mais pequenos à medida que a cerimonia avança.
e gosto, gosto sociológica e artisticamente,
do ar de enfado dos noivos a tirar fotografias de catálogo
para depois figurar num álbum que toda a gente se esquece de ver.
E gosto gosto gosto do bailarico dos casórios:
da abertura do baile com os noivos a acharem que sabem dançar valsa
e dos pares que se lhe seguem:
pais do noivo, pais da noiva, tios do noivo, tios da noiva
amigos dos pais do noivo
chefe de serviço da noiva e respectiva senhora
irmãos e cunhados do noivo e irmãos e cunhados da noiva
amigas casadas com os respectivos maridos
solteirões e solteironas
mulheres com mulheres quando não têm par
e as crianças com as crianças num desatino de ritmo que nunca ninguém percebe.
E depois de acabar a valsa,
dos comboios das manas e das primas e das cunhadas
das coreografias das amigas do grupo da igreja e dos escuteiros
do dançar embriagado de alguns comensais que se torcem mais que o habitual
e daqueles que nunca dançam e permanecem encostadinhos à parede
como se fossem treinadores de uma equipa da liga dos últimos.
e também gosto, oh se gosto, dos convívios dos casórios:
das conversas sobre filhos pequenos das casadas com filhos pequenos
das rodas apertadas das divorciadas muito morenas com uma CH no braço e com copos na mão e cigarro slim
das rodas dos homens de fralda de fora que fumam charuto
das conversas polidas das mães do noivo e da noiva
dos olhos gulosos das mulheres a comentar as toilettes
e dos olhos gulosos dos homens a comentar as mulheres.
Gosto. Gosto de apreciar tudo
Com um copo na mão, a fumar o meu cigarro
com os olhos bem abertos, para não perder pitada.
Para depois poder fazer o que sempre faço. Escrever.
“Declaro-vos marido e mulher”.
Nesta parte eu fico sempre emocionada.
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6 comentários:
Laura, ok, ok...
Mostra lá que vestido levaste. O tal sem costas?
Isabel
ainda não foi desta, o sem costas. :)
Muito bom! Eu gostava de ir a casamentos mas depois divorciei-me e nunca mais me convidaram para nenhum. Coincidências da vida, com certeza ;-)
Beijos
Gostei da descrição e do entusiasmo implícito...
Beijos, Laura.
eusouassim
talvez um dia retomes essas idas.
beijinhos
Graça, obrigada.
um beijinho
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