05/01/17
a mulher que faz coisas esquisitas (o guardanapo de papel)
Às vezes faz coisas esquisitas. Rebuscadas.
Imagina uma coisa simples e de seguida esmiúça-a em incalculáveis especificidades.
Como um encontro com um desconhecido, por exemplo.
Desta vez está sentada num café banal da baixa do Porto.
A rua que vislumbra à sua frente, através do vidro, está cheia de gente.
Gente de férias, gente vestida normalmente, gente a caminhar depressa, gente com sacos de compras, gente encolhida de frio, gente que provavelmente apanhou um vírus de gripe e ainda não sabe, gente que dormiu mal na noite anterior, gente que hoje vai jantar e calçar pantufas quente e ver um filme enroscada numa manta, gente que sente muito as coisas, gente que não troca os bês pelos vês.
O café onde está é um café com pré-pagamento. Como tal, há uma enorme probabilidade de se sentar alguém na mesa onde ela está sentada, sem que aquela – a mesa – seja limpa e arrumada.
Desta vez apetece-lhe deixar um beijo marcado num guardanapo. Um beijo vermelho de batom.
Pois bem, é isso que faz. Discretamente, passa os olhos pelo espaço pequeno, e num impulso pousa os lábios, com intenção, no guardanapo de papel.
Bonita, a impressão daquele beijo. Lábios perfeitos.
Num impulso ainda mais determinado escreve a preto, debaixo da boca grafada, numa caligrafia elegante: “guarda-me em ti”. Pousa o guardanapo no meio da mesa.
Levanta-se, pega na carteira, e sai para a rua cheia de gente.
Passará o resto do dia a imaginar quem encontrou aquele guardanapo com aquela mensagem.
Passará o resto da noite a construir a história que nunca se passou a partir daquele encontro que provavelmente não se vai passar.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Arquivo
-
►
2019
(70)
- Dezembro (8)
- Novembro (10)
- Outubro (10)
- Setembro (10)
- Agosto (11)
- Julho (3)
- Junho (9)
- Maio (6)
- Abril (3)
-
►
2018
(53)
- Dezembro (6)
- Novembro (5)
- Outubro (1)
- Setembro (4)
- Agosto (2)
- Julho (4)
- Junho (2)
- Maio (4)
- Abril (5)
- Março (3)
- Fevereiro (4)
- Janeiro (13)
-
▼
2017
(223)
- Dezembro (8)
- Novembro (13)
- Outubro (11)
- Setembro (14)
- Agosto (9)
- Julho (7)
- Junho (19)
- Maio (26)
- Abril (24)
- Março (25)
- Fevereiro (27)
- Janeiro (40)
-
►
2016
(396)
- Dezembro (29)
- Novembro (35)
- Outubro (24)
- Setembro (29)
- Agosto (19)
- Julho (24)
- Junho (24)
- Maio (37)
- Abril (38)
- Março (41)
- Fevereiro (49)
- Janeiro (47)
-
►
2015
(414)
- Dezembro (31)
- Novembro (32)
- Outubro (47)
- Setembro (36)
- Agosto (11)
- Julho (26)
- Junho (23)
- Maio (34)
- Abril (24)
- Março (43)
- Fevereiro (43)
- Janeiro (64)
-
►
2014
(444)
- Dezembro (29)
- Novembro (49)
- Outubro (64)
- Setembro (36)
- Agosto (46)
- Julho (48)
- Junho (5)
- Maio (22)
- Abril (46)
- Março (19)
- Fevereiro (29)
- Janeiro (51)
-
►
2013
(1029)
- Dezembro (34)
- Novembro (56)
- Outubro (61)
- Setembro (72)
- Agosto (45)
- Julho (110)
- Junho (69)
- Maio (119)
- Abril (92)
- Março (75)
- Fevereiro (143)
- Janeiro (153)
-
►
2012
(1274)
- Dezembro (109)
- Novembro (164)
- Outubro (198)
- Setembro (134)
- Agosto (83)
- Julho (122)
- Junho (62)
- Maio (92)
- Abril (69)
- Março (96)
- Fevereiro (65)
- Janeiro (80)
-
►
2011
(442)
- Dezembro (49)
- Novembro (24)
- Outubro (41)
- Setembro (19)
- Agosto (19)
- Julho (40)
- Junho (19)
- Maio (61)
- Abril (59)
- Março (63)
- Fevereiro (27)
- Janeiro (21)
-
►
2010
(139)
- Dezembro (18)
- Novembro (38)
- Outubro (9)
- Setembro (9)
- Agosto (8)
- Julho (4)
- Junho (19)
- Maio (7)
- Abril (5)
- Março (8)
- Fevereiro (6)
- Janeiro (8)
-
►
2009
(127)
- Dezembro (6)
- Novembro (11)
- Outubro (15)
- Setembro (3)
- Agosto (1)
- Julho (12)
- Junho (9)
- Maio (8)
- Abril (11)
- Março (9)
- Fevereiro (19)
- Janeiro (23)

15 comentários:
eu gosto da mulher que faz coisas esquisitas. :)
um beijo no teu coração, Laura. :)
podias ter deixado uma possibilidade.
uma vez encontrei uma papel do género dentro de um saco do Lidl mas tinha uma página de facebook como referencia.
(encontrei: http://modos-de-olhar.blogspot.pt/search?q=papel)
podias ter deixado uma possibilidade.
uma vez encontrei uma papel do género dentro de um saco do Lidl mas tinha uma página de facebook como referencia.
(encontrei: http://modos-de-olhar.blogspot.pt/search?q=papel)
Gosto dessas coisas esquisitas...
;)
Fantástico seria um homem encontrar e guardar. Depois durante 6 meses o homem ia ao café todos os dias pela mesma hora na esperança secreta de encontrar a mulher do bilhete...
Podias ir continuando a história :)
deixar o número de telemóvel, isso sim era coragem :)
Laura, esta manhã presenciei algo semelhante no café! Em breve, contarei a história!
Mas gostei muito da tua. Já encontrei bilhetes de comboio, papéis de bombom, folhas secas de árvores nos livros que requisito da biblioteca, mas nunca um guardanapo com a marca de batom :)
Um beijinho, Laura
Alaska, esta mulher tem um bocadinho de mim. :)
um pequenino beijo grande
Ana, talvez pudesse. nestas histórias pequenas agrada-me a inevitabilidade do fim. :)
ando há anos à espera de encontrar uma coisa do género, para a seguir escrever uma peça de teatro.
Olvido, todos temos um pouco destas coisas, acho :)
CC, sabes que gosto muito destas historinhas, que na minha cabeça têm sempre um inicio e um fim. tenho dezenas e dezenas delas escritas...
qualquer dia faço um compêndio...
ou o e-mail, M.MT :)
Miss Smilte só eu não encontro nada.
tenho de andar mais atenta...
um beijinho
Uma vez, no dia dos namorados, encontrei dois bombons em forma de coração, de namorado não era, já que não o tinha na altura. E nunca soube quem foi!
~CC~
CC em forma de coração é bonito e ainda por cima bombons :)
Publicar um comentário