há uma cantiga em surdina
há brincos de princesa no jardim
há carreiras de famílias de formigas unidas, igual à minha.
há uma porta que range com o som de antigamente
há uma voz que ri o que já não pode ser gargalhado.
há doce de abóbora
há cheiro de líquido de limpar pratas
há Mr. Bojangles a tocar
há o opel prateado a estacionar na garagem
há barulho de agulhas a bater; a avó tricota na janela, ao sol.
há uma cadela de pelo encaracolado que nos ama a cada dia que passa
há canções dos tachos e dos pratos e da água na cozinha
há livros nas estantes, flores nos canteiros,
piadas nas palavras e esperança nos olhos.
há um tempo que escorre felicidade
e se evapora em momentos felizes.
há pessoas – as minhas pessoas – inseridas em nichos de momentos imortalizados
nessas pessoas há uma em particular que retiro com as duas mãos numa concha:
um patriarca de olhos antigos mas que ainda têm verde jovem
com 3 nomes no nome
de cabelos brancos de neve
sempre vestido a condizer.
há, ainda, segurança, vontade de viver (muita), mimo,
há piadas incontáveis e promessas que um dia se cumprirão
há mãos que ainda trabalham barcos que um dia cruzarão águas por viagens de anos
há mãos que ainda se torcem quando o FCP perde e há, as mesmas mãos
que me mexem nos cabelos para depois dizer “tens o cabelo forte filha”.
há 89 anos que há isto tudo
(e para mim estas coisas serão para sempre).
volto a metê-lo, com as mãos em concha, no nicho do lado esquerdo do meu peito.
logo vou dar-lhe beijos de miúda e um abraço com tudo isto lá dentro.
e, mesmo sabendo que me viu há poucos dias
vai dizer-me o mesmo de sempre, com olhos nublados e astutos:
“já não te via há mais de duzentos anos. não me digas que hoje vens jantar…”
há carreiras de famílias de formigas unidas, igual à minha.
há uma porta que range com o som de antigamente
há uma voz que ri o que já não pode ser gargalhado.
há doce de abóbora
há cheiro de líquido de limpar pratas
há Mr. Bojangles a tocar
há o opel prateado a estacionar na garagem
há barulho de agulhas a bater; a avó tricota na janela, ao sol.
há uma cadela de pelo encaracolado que nos ama a cada dia que passa
há canções dos tachos e dos pratos e da água na cozinha
há livros nas estantes, flores nos canteiros,
piadas nas palavras e esperança nos olhos.
há um tempo que escorre felicidade
e se evapora em momentos felizes.
há pessoas – as minhas pessoas – inseridas em nichos de momentos imortalizados
nessas pessoas há uma em particular que retiro com as duas mãos numa concha:
um patriarca de olhos antigos mas que ainda têm verde jovem
com 3 nomes no nome
de cabelos brancos de neve
sempre vestido a condizer.
há, ainda, segurança, vontade de viver (muita), mimo,
há piadas incontáveis e promessas que um dia se cumprirão
há mãos que ainda trabalham barcos que um dia cruzarão águas por viagens de anos
há mãos que ainda se torcem quando o FCP perde e há, as mesmas mãos
que me mexem nos cabelos para depois dizer “tens o cabelo forte filha”.
há 89 anos que há isto tudo
(e para mim estas coisas serão para sempre).
volto a metê-lo, com as mãos em concha, no nicho do lado esquerdo do meu peito.
logo vou dar-lhe beijos de miúda e um abraço com tudo isto lá dentro.
e, mesmo sabendo que me viu há poucos dias
vai dizer-me o mesmo de sempre, com olhos nublados e astutos:
“já não te via há mais de duzentos anos. não me digas que hoje vens jantar…”
17 comentários:
Tão bonito, Laura!
Palavras delicadas tricotadas com amor. As histórias de ternura são para sempre.
Muitos parabéns ao pappy :)
Bonita idade :)
Momento muito bonito e feliz este teu.
:)
que bom Laura, tão bom...
beijo :)
Boa tarde, há felicidade também, excelente composição poética que cativa do principio ao fim.
AG
89? Quem me dera chegar até ela!
Kis :=}
Uau, que texto maravilhoso. Tens um dom.
Que idade magnífica e que dedicatória tão sentida na sua beleza pura.
Parabéns!
Revi-me nestas palavras. Pai. Tão bom ainda podermos encher o peito de ar e arredondarmos os lábios na palavra pai!
Beijos, Laura :)
Uma ternura
Bj
oh que lindo, Laura. :)
um beijo de parabéns ao pappy, e outro à filha com cabelos de mar. :)
Palavras carregadas de amor!
Parabéns ao pappy :)
Fantástico. De leitura meiga e carregada de amor. Que te encante sempre essa magia e que vivam sempre assim de momentos felizes.
Adorei!
Fascinantes, não consigo ter outras palavras!
Tanto amor nestas palavras bonitas Laura. Pai é um pilar nas nossas vidas :)
Comovente, Laura, este recordar de tanta coisa bonita passada ao lado do pai. Que tenham ainda muitos momentos belos.
Uma boa semana.
Beijo grande.
muito muito obrigada a todos e a todas :)
um xi apertado
Bonita idade..
Isabel Sá
Brilhos da Moda
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