Quando penso neste meu fascínio pelo universo feminino não sei se comece pelas avós, uma alta a outra baixa, as duas emperiquitadas, com manias singulares, mulheres fortíssimas,
se pelas senhoras engalanadas com batom rosa e sombra azul bebé que se passeavam com os fatos chiques, na esplanada de Espinho,
se pelas vendedoras da feira de São Mateus e da feira de Espinho que apregoavam com voz de homem e guardavam o dinheiro no bolso do avental,
se pela minha professora primária (que me ensinou o que uma mulher não deve ser),
se pelas ondas que eu e as mulheres da família herdámos nos cabelos,
se pelas empregadas que falavam com esses, levavam tudo à frente, eram família e cheiram ainda hoje a coisas da infância,
se por aquela vizinha que visitava a minha avó Amélia e que se vestia de preto e estava sempre a fazer crochet,
se pelas rendas que herdei das mulheres da família e que hoje uso com vaidade em datas especiais,
se pelas camélias e pelas rosas da minha casa das Antas que me ensinaram a gostar de flores e achá-las gente,
se pelas gargalhadas jovens da minha mãe, os seus recortes de revistas e aquele armário onde ela guardava as relíquias,
se pelas conversas de gente da minha tia que faz o melhor arroz que conheço, que não pinta o cabelo e que tem mãos de mãe,
se pelas recordações que as minhas primas-irmãs escreveram na pele da minha vida,
se pelas conversas entre cigarros com a minha cunhada-irmã,
se pelo humor contagiante e a garra da minha sobrinha,
se pela harmonia que as minhas sobrinhas novas instalaram nas suas famílias,
se pelos tempos passados com as minhas irmãs, com chuva, sol, silêncio, carinho, sangue e pelas recordações boas que ainda hoje guardo e colecciono,
se pelas camadas de amizade que as minhas amigas me vão alojando nos dias, no mais bonito dos meus dias,
se pelas mães das minhas amigas, se pelas mães todas,
se pelas histórias maravilhosas que as mulheres que sigo na Blogosfera me brindam quase todos os dias,
se pela Rita Lee se pela minha Aretha se pela Elis,
se pela filha que não tive mas que gostaria de ter tido,
se pela minha irmã mais velha que me abrigou e me abraça e me é mãe-e-tudo,
se por todas as mulheres que me passaram nas mãos em Teatro e quiseram comigo trilhar uma estrada de valores, arte e coragem,
se pelas colegas de trabalho que são tantas vezes família,
se pelas mulheres que conheci através do Teatro e que ficaram em palavras, abraços e canções,
se pelas mulheres que não conheço de rosto mas conheço de palavras, imagens e música,
se pelas minhas gatas que trato como filhas,
se pelas amigas que vejo pouco mas sinto muito,
se pela maré vaza da minha praia do Trafal,
se pelas mulheres que já têm mais idade e se escrevem com letra tão grande,
se pelas mulheres que li em livros e senti em quadros e degustei em música,
se pelas mulheres que dançaram e pintaram a manta e pintam os lábios,
se pelas mulheres que lutaram pelas outras mulheres,
se pelas mulheres que lutaram e lutam por causas nobre, cívicas e igualitárias,
se pelas mulheres em sofrimento,
se pelas mulheres com fome, com frio, com sede de paz,
se pelas mulheres assassinadas,
se pelas mulheres que fazem três coisas ao mesmo tempo,
se pelas mulheres que já não estão,
se pelas mulheres que escreveram história,
se pelas mulheres que se molham à chuva e pegam numa enxada,
se pelas mulheres que não sabem ler.
sei apenas que sim, que gosto (muito) e preciso (muito) destas mulheres todas.
24 comentários:
Oh, pah, que lindo texto
Parabéns
Kis :=}
"...se por mim" / por ti, Laura. Se começasses por ti...
Gostei muito de te ler assim.
Beijo
E eu gosto de ti e do que escreves e da simplicidade com que o fazes e de te poder ler e apreciar o teu soberbo gosto em tudo o que aqui pões. :))
Lindíssimo, Laura.
Tens a quem sair! :)
Dia bom.
Beijinho
pelo bom que escreves sempre aqui, Mulher!
Laura,
não sei dizer mais nada.
beijinho,
Mia
Que saudades desta Mulher tão grande. :)
Um beijo minha doce Laura. :)
Por tudo isso, está aí tudo :)
Maravilhoso texto!
r: Sem dúvida :)
Atrevo-me a ser o primeiro, que não mulher, a vir aqui dizer-te que assim, como escreves, gosto muito de todas as mulheres :)
Gi, obrigada
beijinho
Isabel, gosto quando tu gostas :)
Carla e eu também gosto de ti, tu sabes :)
Té, obrigada,
agora deixaste-me curiosa :) saio a quem?
Luísa, tu és daquelas Mulheres que me faz gostar (muito) disto :)
Mia, não digas.
Eu sei do teu silêncio. Consigo ouvi-lo daqui.
beijo
Alaska que bom ver-te aqui!
já tinha andado à tua procura!
beijo minha querida menina
GM, e por ti também :)
um beijo
Andreia, fico feliz que gostes :)
CC, sou uma abençoada por ter tantas na minha vida :)
"agora deixaste-me curiosa :) saio a quem?"
:)
Assim num pequeno apanhado:
-(...) Avós, mulheres fortíssimas
-(...) Professora primária que me ensinou o que uma mulher não deve ser
-(...) Ondas que herdámos nos cabelos
-(...) Gargalhadas jovens da minha mãe
Laura, nada mais somos do que a soma de pequenos detalhes. que fazem a diferença.
Adorei o post. Como escrevi ontem; Lindíssimo.
Beijinho
Oh, sabes, eu posso zangar-me com as palavras, recusar-me a escrever até me passar a birra, mas sinto a vossa falta. Das tuas pequenas coisas que são tão maiores que eu. Estou aqui. :)
Té, por alguns momentos pensei que pudesses conhecer algum dos "meus" :)
obrigada
beijinho
que bom Alaska.
e eu aqui à tua espera :)
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