Chega-me num murmúrio, a voz da minha casa.
Tem timbre grave, sotaque acentuado. Carrega nos erres e às vezes esvai-se em onomatopeias.
Ensinei-a a falar comigo e sobretudo a ouvir-me.
Tem mãos firmes, a minha casa. Acolhe-me, ampara-me e também me empurra, quando estou apática.
Temos, uma na outra, vaidade contida e compreensão aprendida.
Somos sonolentas pela pálida luz da manhã e mulheres maduras na mão dos candeeiros bonitos do fim de tarde.
Falamos inglês, francês e pequeno. Mudamos muito de roupa e adoramos sapatos de salto.
Gostamos de artistas de cinema antigas e pinturas do século passado.
Às vezes choramos e traçamos com a água dos olhos uma linha-rio no rosto das paredes.
Às vezes rimos muito e fácil numa abertura de lábios e portas.
A minha casa e eu e eu e a minha casa somos uma espécie de livro inacabado.
Já lhe escrevemos o prefácio mas teimamos em não lhe querer escrever o fim.
O fim é coisa de coisas materiais.
Eu e a minha casa e a minha casa e eu somos imortais dentro da finitude da história da nossa vida.
16 comentários:
(este mulher vive cá numa casa...)
:))
Já tenho saudades da minha casa. E a minha casa tem saudades minhas
Postagem maravilhosa! Amei
Beijos e uma noite feliz
Fantástico!
Esta casa é espectacular!
Adorei.
Uma casa à tua medida, o que é dizer que tu és a medida da tua casa. :)
Gostei de conhecer a tua casa e que continue imortal como o saõ todas as coisas que te possam fazer feliz! :)
Luis dá-me cá uma trabalheira...
:) Sacana, gostei.
Noite feliz, Cidália :)
Andreia, é tão bonita a imagem...
MZ cabe lá tanta coisa!
Luísa, é mesmo isso, disseste-o tão bem :)
Manu, a minha casa é feita delas :)
Uma casa com Laura dentro e em sintonia com a luz e com o mar. É assim que vejo a tua casa, harmoniosa ;)
GM, que bonito isto que me escreveste :)
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