Com revistas e filmes na televisão. Postais e historias dos mais velhos.
Com as músicas que a minha mãe cantava e as musicas que o meu pai tocava nos cartuchos.
Com o glamour das estrelas de cinema a despertar-me precocemente, afinando o sentido estético de tudo na minha vida, desde as paredes da minha casa ao risco preto que ainda hoje faço nos olhos.
Cresci com musicais, canções imortais, vestidos esvoaçantes e coreografias da Broadway.
Lembro-me de ser muito miúda e de querer ter o cabelo como a Gilda.
Um vestido como o da Marylin e um corpete como a Jane Russell.
A tez branca da Jean Harlow e a elegância da Audrey Hepburn.
Os vestidos da Scarlett o’Hara. O corpo da Cyd Charisse e a irreverencia da Natalie Wood.
E fumava palitos para imitar a Lauren Bacall e cantava para espanadores do pó para imitar a Maria da “Música no Coração”.
E deitava-me na alcatifa do chão da sala e imaginava conversas com o Warren Beatty.
E via-me dentro do Vertigo ou a fugir dos Pássaros e via-me dentro de um filme noir a fugir da sombra de um assassino.
E beijava apaixonadamente as paredes à procura da boca do Cary Grant e do Montgomery Clift.
E via-me agarrada à cintura do Charlton Heston numa corrida desenfreada ou debaixo do guarda-chuva do Gene Kelly.
Ainda hoje forro as paredes do meu quarto com a beleza desses tempos e me emociono sempre que vejo um desses filmes.
Já não ponho toalhas na cabeça para fazer de conta que tenho o cabelo comprido ou fumo palitos a imaginar que são cigarros.
Mas, muitas vezes, me imagino a correr na erva verde de uma montanha da Áustria e, ao olhar para o espelho, levanto a sobrancelha como fazia a Vivien Leigh.
Cresci com o cinema na minha vida.
E tenho, na privacidade da minha vida, um bocadinho de todas estas mulheres.
4 comentários:
pois tens, Laura. :)
é giro que também cresci com o cinema, mas numa outra dimensão, mais envolvido com as histórias e os lugares, sem me preocupar com imitações.
se bem que fosse impossível não imitar o jeito rebelde por exemplo do Steve McQueen ou a cara de mau do Bogart.
Tudo pelo melhor
neste Inverno descontente
Quanto ao seu texto partilhado
ainda bem que vive apaixonadada
por memórias vivas
Muito bom.
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